Telemoveis na escola e o refugio mental

 

 Nas ultimas semanas, tem havido a discussão sobre proibir telemóveis nas escolas. Vejo muitos a dizer que sim, outros a dizerem que não, então resolvi dar a minha opinião. Na escola sempre fui um rapaz isolado, não tinha amigos na escola e era visto como "estranho", e "maluco". Honestamente, mais vale sozinho do que mal acompanhado.

A tecnologia sempre foi um refugio para mim, um refugio onde eu poderia sair do mundo real e interagir com pessoas e conteúdos que eram do meu interesse. Afinal, na minha escola secundária não tinha ninguém para debater sobre os impactos da Primeira Guerra Mundial na Europa, ou para conversar sobre a ultima temporada de The Mandalorian. Eu era diferente, tanto em gostos como mentalmente por estar no espectro autista.

Então, esta questão fez-me pensar, será correto de tirar de pessoas como eu este refugio? Obrigar pessoas muitas delas neuro divergentes a conviver com pessoas que provavelmente gozariam com elas? Expor estes jovens, estes adolescentes a ambientes sociais que não se encaixam? É normal ser diferente, e acho que falta diversidade nas escolas portuguesas. É fácil pessoas com os mesmos gostos e a mesma mentalidade interagirem, socializarem, e naturalmente, quem não tem o mesmo mindset é excluído. Quem não ouviu a nova musica do momento, quem não viu o ultimo jogo do Porto ou o novo Reality Show da TVI, é excluído destes tópicos. É normal que pessoas com gostos e personalidades diferentes simplesmente não se sintam atraídas para socializar com as pessoas a sua volta, e isso é normal! Não devemos forçar adolescentes a socializar, ainda mais com pessoas que em boa verdade, não gostam deles.

Por isso vejo com maus olhos a proibição de telemoveis das escolas, no fundo, estamos a tirar um refugio online para adolescentes que muitas vezes são excluídos, vitimas de bullying e de chacota, desprezados, etc... Seria interessante vender alternativas como a leitura por exemplo, mas obrigar eles a socializar? Para mim isso é absurdo. Só irá alimentar mais os casos de bullying e de exclusão social na escola. Nem todos os adolescentes dão-se bem. Nem todos tem os mesmos gostos, os mesmos feitios, as mesmas personalidades, e esta tudo bem! Não há problema nenhum em ter gostos e valores diferentes, porém, muitas formas de ver o mundo entram em conflito. É que é bonito falar de inclusão, empatia e igualdade nas escolas, porém, o que fazemos na pratica? Cartazes que tornam-se decorações de corredor? Peças de teatro que os alunos participam só pela nota? Palestras que os alunos só vão para não fazer teste? Promulgar leis que reforçam a exclusão dos alunos isolados e que tiram o seu refugio? No fundo, muito se fala de inclusão e empatia mas pouco é feito em termos práticos.

Porém, voltando a temática inicial, acho essa proibição desnecessária e tirânica. No fundo, só aumenta ainda mais o isolamento dos alunos e os faz mais vulneráveis ao bullying. Até acho tal discussão desnecessária, quando há problemas mais sérios com o nosso sistema de educação atrasado, como as refeições precárias nas cantinas, abusos por parte dos professores, infraestruturas desatualizadas e decadentes, falta de acessibilidade e de apoio a pessoas portadoras de deficiência e neurodivergentes, etc... Enquanto o nosso país afunda-se em disparidades de renda mais profundas, especulação imobiliária, crescimento da extrema-direita e de discursos de ódio, os nossos governantes e as nossas classes médias perdem tempo a discutir se deve-se ou não proibir telemóveis nas escolas, diria que é o pão e circo das discussões.

E mesmo na questão da sociabilização, soluções mais praticas porém mais trabalhosas como a criação de mais clubes escolares, criação de núcleos estudantis (seja de alunos neurodivergentes, alunos portadores de deficiência, alunos vindos do Brasil, etc...), criação de grupos de apoio psicológico, seriam medidas mais efetivas para combater o isolamento social do que simplesmente proibir telemoveis nas escolas. Mas claro, que para os diretores e para os nossos políticos, é mais fácil cortar as ervas daninhas do que as arrancar pela raíz. 


Enfim, esta é a minha opinião acerca deste assunto tão comentado. Entendo quem discordar, afinal, eu não falo verdades absolutas, porém, acho interessante usar este blog para dar a minha opinião. Enfim, continuo a achar toda esta discussão desnecessária, e enquanto não houver soluções mais praticas, os problemas ainda continuaram nas escolas.



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